Há muitas coisas para escrever, mas no momento não sei dizer de mim. Estou ocupada olhando para dentro. Tentando semear flores ao redor. Tentando matar monstros dentro de mim. Tentando celebrar os nascimentos. Tentando sepultar os mortos.Meus olhos exalam amor e pavor. É uma briga imensa, de mim comigo mesma. Mas de hoje em diante, eu juro: jamais voltarei a alimentar os monstros que me consomem.É muito difícil passar a vida culpando as pessoas para, afinal, dar-se conta de que o adversário habita nossa própria psique. Esse monstro que me olha com a mesma cara de sempre, e diz: "ah, estás feliz? Não se iluda. Não és especial". Ele me diz isso há 26 anos. E ele sorriu com seus dentes amarelos quando dormi chorando no dia em que fiz 15 anos de idade, olhando as estrelas e sentindo a fúria de um pai insensível. E ele sorria quando eu apanhava. E ele sorria muito a cada vez que mais lágrimas me vertiam dos olhos.Hoje vou olhar para esse verme que me habita, e dizer: "És cego. Não enxergas o quanto sou especial. Sou sim. Eu enxergo".Porque eu não vou "ser gauche na vida". Vou ser mulher, e continuar sustentando estrelas nos quadris, e parindo afetos, e parindo gentes, e parindo palavras.
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